Regresso às aulas, após as férias – Reportagem RTP

Regresso às aulas, após as férias – Reportagem RTP

Em primeiro lugar importa perceber o que é e o que representa o regresso às aulas. Com efeito, trata-se de uma mudança de rotinas, ritmos, horários e responsabilidades. A criança irá deixar um período mais permissivo e com maior liberdade, menos responsabilidades e mais tempo e espaço para as brincadeiras. Ao regressar às aulas a criança terá que cumprir um horário mais rígido e com mais regras, tendo menos liberdade, menos diversão e mais exigências. Mas nem tudo é negativo neste regresso. Afinal, é a oportunidade para rever os amigos e colegas, e partilhar as aventuras vividas durante o verão. Por outro lado, há todo um conjunto de novidades a descobrir proporcionadas por mais um novo ano: novos professores, nova turma, novos colegas, novas disciplinas, nos livros, entre outros.

A exemplo do que acontece no “mundo dos adultos” com o período pós-férias, o regresso às aulas representa o voltar ao “trabalho”. Contudo, e embora por natureza o ser humano seja avesso à mudança, as crianças possuem uma boa e rápida capacidade adaptativa. Efectivamente, de uma forma geral, é-lhes mais fácil lidar com as mudanças, adaptando-se a novas situações rapidamente, podendo o processo de adaptação do regresso às aulas demorar entre 15 a 30 dias.

Apesar desta aparente facilidade adaptativa, convém não cair em generalizações já que cada caso será um caso e cada criança irá reagir a seu modo a esta mudança. O regresso às aulas provoca um conjunto de sensações que podem ir desde a excitação à ansiedade extrema, devendo os pais/educadores estar atentos à evolução deste processo. Quando a criança apresenta uma ansiedade excessiva de resistência à escola, importa não negligenciar este alerta. Se este comportamento de aversão à escola se mantiver ou agravar, convém descobrir qual a sua causa. Primeiro, perguntando à criança qual o motivo do seu medo, já que terá que ser ela própria a dize-lo, e, caso não se obtenha nenhuma resposta, procurando um especialista que, pela aplicação de técnicas e instrumentos adequados, poderá chegar até à criança.

No que respeita a preparação das crianças para o regresso às aulas importa distinguir entre a componente comportamental e a cognitiva. As alterações na componente comportamental incidirão especialmente sobre os hábitos, ritmos e horários da criança. Com a entrada neste novo período escolar o tempo disponível da criança torna-se mais escasso, já que terá que ser dividido forçosamente por mais actividades, obrigando a uma melhor gestão do seu tempo. É espectável que a criança tenha que se levantar mais cedo do que no período de férias, obrigando a que se deite também mais cedo. Por outro lado, haverá que instituir quais os horários pós-escolares que serão dedicados ao estudo e quais serão dedicados às brincadeiras. A definição destes três momentos – deitar, estudar e brincar – deverá ser decidida em conjunto pelos pais/educadores e filhos/educandos, preferencialmente alguns dias antes do início do ano letivo. O estabelecimento destes horários com o envolvimento da criança irá promover um maior sentido de responsabilidade e independência, facilitando o acatar das novas regras, já que foi parte ativa no acordo.

Na esfera cognitiva, é importante que os pais expliquem e relembrem às crianças quais serão as alterações que se aproximam. Sem menosprezar os medos e inseguranças que as crianças terão relativamente ao regresso, importa que os pais e educadores dêem maior ênfase aos aspectos positivos que irão encontrar. As crianças são extremamente inteligentes e irão perceber se os pais explicarem com clareza e sem dramatizar, de uma maneira descontraída e divertida.

Reportagem da edição do telejornal de sábado, 29 de Agosto de 2011